O Nome de Deus: יהוה (YHWH) (Ex 3,13-14)

Por: - 06 de outubro de 2024

Imagem: Luís Henrique Alves Pinto (luishenriquealvescriar-te.blogspot.com)
Qual é o verdadeiro nome de Deus, segundo a Bíblia? Quando Deus ouviu o clamor do povo que estava escravo no Egito e desceu para libertá-lo, Moisés disse a Deus: “Mas quando eu for aos israelitas e disser: ‘O Deus de vossos pais me enviou até vós’, e eles me perguntarem: ‘Qual é o seu nome?’ o que eu devo dizer?”. Deus respondeu: “Eu Sou Aquele que é”. Disse mais: “Assim dirás aos israelitas: ‘EU SOU me enviou até vós’.” (Ex 3,13-14).

Carregar e trazer consigo o nome de Deus é pertencer a Ele. Deus quer, e é agradável ao Senhor, manter a relação com o seu povo como uma relação de pai e filho: “Eu serei o vosso Deus e vocês serão o meu povo” (Ex 6,7; Lv 26,12; Dt 26,17-19; 29,12). Esta expressão também é muito frequente nos profetas Jeremias e Ezequiel. E, por causa do seu grande Nome (1Sm 12,22), Deus não abandonará o seu povo porque este povo é seu. Os sacerdotes colocavam o nome do Senhor sobre o povo como um sinal ou como um segredo, e isso significava que o povo pertencia ao seu Deus (cf. Is 44,5; Ez 9,4; Ap 7,3; 14,1; etc.). Para Israel, esta pertença representava a fonte das bênçãos dele recebidas. É Ele o Criador da Terra e de tudo o que existe. “Eu sou Iahweh; não há nenhum outro” (Is 45,18; cf. Dt 32,39).

O nome dá autoridade a quem o possui. Ao contrário, aquele que não tem nome é desprezado, é como afirmar que ele não existe, que é nulo, caótico, pois “o nome é como a alma da pessoa”. Já no princípio da criação, Deus deu um nome ao homem e à mulher e depois pediu a Adão que desse nome a todos os seres criados (cf. Gn 2,19)

Saber o nome divino é conhecer Deus como Ele se revelou. Não existiam nomes divinos secretos em Israel, porque o uso mágico do nome de Deus era proibido e porque o nome de Deus é santo (Sl 103,1; 105,3; 106,47; 145,21; 1Cr 16,35; 29,16) e glorioso (Sl 72,19; 1Cr 29,13). Tanto assim que se procurou guardar bem o seu nome contra o abuso na maldição (Lv 24,11.15s) e no juramento (Lv 19,12), porque quem agia dessa forma estava profanando e violando o nome de Deus (Pr 30,9).

Portanto, segundo a Bíblia, é bendito aquele que caminha no nome do Senhor (cf. Sl 118,26). Colocar o nome de Deus sobre o povo era uma expressão semítica que indicava o favor divino. O nome do Senhor era pronunciado três vezes na bênção (Nm 6,24-26), e isso assegurava a Israel a presença do Deus que caminhava com o seu povo e o protegia. O povo de Israel compreendia que a bênção divina era a condição necessária e fundamental da qual dependia o verdadeiro êxito da sua existência. Sem uma relação harmoniosa com Deus, a vida humana não podia encontrar o seu sentido autêntico nem chegar ao seu verdadeiro desenvolvimento.

Mas então, qual é o verdadeiro nome de Deus, segundo a Bíblia? Quando Deus ouviu o clamor do povo que estava escravo no Egito e desceu para libertá-lo, Moisés disse a Deus: “Mas quando eu for aos israelitas e disser: ‘O Deus de vossos pais me enviou até vós’, e eles me perguntarem: ‘Qual é o seu nome?’ o que eu devo dizer?”. Deus respondeu: “Eu Sou Aquele que é”. Disse mais: “Assim dirás aos israelitas: ‘EU SOU me enviou até vós’” (Ex 3,13-14). A grafia e pronúncia são incertas: a Bíblia de Jerusalém traduz por Iahweh (outros sugerem que seja talvez Iahwô). O nome de Deus é composto pelo Tetragrama (4 letras) YHWH.

Muitos textos bíblicos escritos sobre fatos que aconteceram antes de Ex 3 já trazem o nome de Deus. Em Gn 2,4b é onde o nome de Iahweh aparece escrito pela primeira vez. A Bíblia diz que foi Enós o primeiro a pronunciar o Nome de YHWH (cf. Gn 4,26). No entanto, parece que foi mesmo a Moisés que Deus revelou o seu verdadeiro Nome. “Deus falou a Moisés e lhe disse: ‘Eu sou o YHWH. Apareci a Abraão, a Isaac e a Jacó como El Shaddai; mas meu nome YHWH, não lhes fiz conhecer” (Ex 6,2).

Então devemos entender que o correto é que o Deus de Abraão, Isaac e Jacó era El Shaddai, que quer dizer “Deus das montanhas; Deus das campanhas”. Este nome foi traduzido nas nossas Bíblias como: “Todo Poderoso, Onipotente” ... ou se manteve o original El Shaddai. Porém, não é correto traduzir como “o Dominador” (como fazem algumas traduções), porque é uma expressão muito negativa para nós.

Disso resulta que o nome de Deus, com o qual Ele quer ser chamado, é יהוה (YHWH), o famoso tetragrama hebraico. Este Nome (YHWH) aparece 6.823 vezes na Bíblia Hebraica (Antigo Testamento) e provém de uma forma verbal simples do verbo היה (hyh, “ser” em hebraico) que tem o significado de “Ele é”, “Ele se mostra eficaz”. Mas Deus, falando de si mesmo, não poderia usar outra forma que não fosse a primeira pessoa: “EU SOU”. O hebraico pode ser traduzido ao pé da letra: “EU SOU AQUELE QUE SOU”, que seria o correspondente a “EU SOU AQUELE QUE É”, ou “EU SOU O EXISTENTE”.

A pronúncia do Nome Sagrado passou por diversas fases na história de Israel. Primeiro, se podia falar e pronunciar o Nome de Deus, assim como nós fazemos hoje quando chamamos Deus de Pai, Senhor..., mas alguns começaram a abusar do Nome divino. Juravam e blasfemavam em nome de Deus. Com isso, o Nome foi proibido de ser pronunciado e só podia ser recitado pelos Sacerdotes no Templo e nas sinagogas. Depois, só o Sumo Sacerdote podia dizê-lo. Mais tarde, apenas uma vez por ano, no dia da festa do Yom Kippur (Dia da Expiação). Por fim, o Nome foi totalmente proibido e ninguém mais podia pronunciá-lo. Quando se lia o texto bíblico, em vez do Nome Divino, pronunciava-se “Adonai” (1), que quer dizer “Senhor”. Os últimos livros do Antigo Testamento já nem mais escreviam o nome de YHWH, mas colocavam אֵל (El) ou אֱלֹהִים (Elohîm), que quer dizer “Deus”.

É bom lembrar que o texto hebraico da Bíblia (AT) foi escrito só com as consoantes. Não existiam vogais. Por isso, depois de algum tempo que o Nome não se pronunciava mais, já não se sabia bem qual era a verdadeira vocalização. Só os rabinos e escribas mais estudados poderiam ter o segredo. E também não se podia modificar o texto escrito. Lá, o nome permanecia como foi revelado.

Nos séculos VII-VIII d.C., os massoretas colocaram as vogais em todo o texto hebraico da Bíblia e, quando tiveram que vocalizar o tetragrama do nome de Deus, colocaram as vogais do nome de אֲדֹנָי (Adonai). Fizeram isso para evitar que se pronunciasse o nome de Deus. Se alguém que devia ler o texto estivesse um pouco distraído, não iria ler o nome de Deus. Isso era considerado uma falta gravíssima! Ou seja, a tradição hebraica mantinha um respeito enorme pelo nome de Deus, considerando-o algo tão Sagrado que nenhum ser humano poderia pronunciá-lo.

Mas, em 1874, Charles T. Russell fundou as Testemunhas de Jeová, nos EUA. Estes, não conhecendo bem o hebraico, e muito menos toda a história do nome de Deus, traduziram o tetragrama, com as consoantes hebraicas do nome divino (YHWH) e as vogais de Adonai. Eles julgavam ter descoberto o “verdadeiro nome de Deus” e, por isso, traduziram o nome por “Jeová”, “Iehovah” ou “Gehova”. O que é difícil de ser correto. “Jeová provém provavelmente de uma tentativa inadequada de combinar as consoantes hebraicas YHWH, que originalmente pode ter sido pronunciado Yahveh, com as vogais de Adonai, nome hebraico do Senhor, que foram sobrepostas a YHWH. Nos tempos pós-bíblicos, YHWH ou Yahveh foram substituídos por Adonai, quando, como sinal de temor e respeito, o Nome inefável não foi mais pronunciado pelos judeus” (2).

Hoje, as Bíblias traduzem o nome divino como:

a) o Eterno (Torá Hebraica);
b) Iahweh (Bíblia de Jerusalém);
c) Javé (Edição Pastoral e algumas Bíblias latino-americanas);
d) SENHOR (várias Bíblias), mantendo o respeito pelo Nome divino (3);


Várias correntes judaicas pronunciam HaShem (“O Nome”). No Antigo Testamento, Deus aparece ainda com outros nomes: “Altíssimo”, “Santo”, “Onipotente”, “Eterno” etc.

Jesus, que também era hebreu, parece que nunca pronunciou o Nome de Deus. Em Marcos 12,30 e 12,36, Jesus utiliza textos do Antigo Testamento que tinham o nome de Deus, mas deve ter pronunciado “Adonai” ou “Senhor” e não “Iahweh”, pois o original grego traz Κύριος (Kyrios = Senhor).

Jesus foi fiel à tradição do seu povo. Mas, falando de si mesmo e querendo revelar a sua natureza divina, Jesus utilizou o mesmo verbo com o qual Deus se manifestou em Ex 3,13-14. É importante analisar esta expressão no Evangelho de João. O evangelista conhece a fundo o Antigo Testamento, bem como a cultura e a religião hebraica. Por isso, neste Evangelho, é interessante ver como o verbo “ser” é muito frequente. Portanto, nos interessa muito que, em João, por quatro vezes Jesus utiliza para si a expressão “EU SOU”, sem nenhum complemento (Jo 8,24.28; 8,58; 13,19) (4).

Jesus mesmo se identifica com Deus Pai: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30). Em outra passagem, Jesus diz: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9). O Novo Testamento também afirma que “O Verbo estava em Deus e o Verbo era Deus” (Jo 1,1) e que Jesus “é a imagem do Deus invisível” (Cl 1,15).

Outra constatação importante é que, no Evangelho de João, quando Jesus usa o complemento ao verbo, o faz por sete vezes. Ou seja, por sete vezes (o número perfeito), Jesus diz o que Ele é:

1) Eu sou o Pão da Vida (6,36.41.48.51);
2) Eu sou a Luz do mundo (8,12; 9,5);
3) Eu sou a Porta (Jo 10,7.9);
4) Eu sou o Bom Pastor (Jo 10,11.14);
5) Eu sou a Ressurreição e a Vida (Jo 11,25);
6) Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6);
7) Eu sou a Videira Verdadeira (15,1.5).

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(1) Lia-se Adonai, ao invés de Adoní, para referi-lo unicamente a Deus e não aos senhores humanos.

(2) SELTZER, R. M. Povo Judeu, Pensamento Judaico I (Judaica 1, Rio de Janeiro, 1990), p. 3.

(3) A LXX (Septuaginta), versão grega do Antigo Testamento, traduz יְהֹוָה (Iahweh) como Κύριος (Kyrios), e a Vulgata (versão em latim da Bíblia) traduz como Dominus.

(4) No Evangelho de João, aparece ainda várias vezes a expressão “Sou eu” (Jo 4,26; 6,20; 7,28; 8,16; 9,9; etc.), mas não com o mesmo sentido forte desses quatro casos.

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Bibliografia

BIBLE WORKS 5.0. Programa bíblico para computador. Texto, dicionário e gramática.

BÍBLIA DE JERUSALÉM, TEB e EDIÇÃO PASTORAL. Introduções e notas de rodapé.

DÍEZ MACHO, A. – BARTINA, S. – GUTIÉRREZ-LARRAYA, J. A. (ed.), Enciclopedia de la Biblia 6 voll. (Barcelona 1963).

JENNI, E. – WESTERMANN, C. ed. Dizionario teologico dell’Antico Testamento. Tradução italiana do original alemão (Torino 1982).

J. L. MACKENZIE. Dicionário Bíblico. Tradução do original por CUNHA A. et al. (Paulus, São Paulo 72002).

SELTZER, R. M. Povo Judeu, Pensamento Judaico I. (Judaica 1, Rio de Janeiro, 1990).

REYMOND, P. Dictionnaire d’Hebreu et d’Araméen Bibliques (Paris 1991). Traduzione italiana: SOGGIN J.A. ed. Dizionario di ebraico e aramaico biblici (Roma 1995).

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Imagem: Luís Henrique Alves Pinto (luishenriquealvescriar-te.blogspot.com)

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